26/04/2008

22/04/2008

"Madeira deve apostar numa marca e no turismo jovem"

Carlos Coelho, um dos maiores criadores de marcas, defende aposta na tradição



A Madeira e o Funchal devem apostar na criação de uma marca colectiva que permita uma divulgação mais eficaz ao nível exterior. Quem o diz é Carlos Coelho, um dos maiores, senão o maior criador português de marcas de todos os tempos, que recentemente esteve na Madeira a realizar filmagens para um programa transmitido pelo SIC sobre a Madeira.

Uma marca colectiva de uma cidade, de uma Região ou de país, explica, é muito diferente de uma marca comercial. E quer o Funchal, quer a Madeira, reúnem as condições necessárias para a criação de uma marca colectiva. No caso concreto do Funchal a imagem de marca devem ser as flores. "O Funchal representa uma das melhores miscelizações de flores feitas no país. Existem aqui flores de todo o Mundo, do Japão, de África, da Austrália, da África do Sul e até dos Himalaias, como é caso das orquídeas".

Além das flores Carlos Coelho salienta também outros pormenores que tornam o Funchal e a Madeira locais especiais e únicos. "Existe uma sensibilidade particular e pormenores únicos como os táxis se chamarem 'abelhinhas', a noite ser as 'vespas' ou o leite ser 'Estrelícia'". Tudo isto "são grandes valores do Funchal".

Na opinião de Carlos Coelho deve ser "neste quadro de valores" que o Funchal e a Madeira devem apostar. Carlos Coelho reconhece que actualmente "a Madeira, não tanto o Funchal, já é hoje uma marca no Mundo". No entanto, a Região pode tirar mais dividendos se apostar na rentabilização dos seus valores e noutras formas de fazer turismo. " Temos de entender o turismo de várias formas".

Turismo não é só camas

Na "sua primeira geração tínhamos um turismo mais básico. Era visto como a venda de camas". Hoje tudo isso mudou e explica porquê. "O turismo ideal é aquele em que cada noite de dormida representa sete noites antes e sete noites depois de experiências, ou seja, os melhores destinos do Mundo são aqueles que conseguem projectar antes e depois a sua experiência e não apenas a experiência de uma noite".

O sucesso da indústria turística, acrescenta, "está em vender o sonho antes e o depois. A indústria do Turismo não são apenas camas. São também coisas e conteúdos que se consomem antes e depois".

No seu entender, "a Madeira e o Funchal têm todas as condições para o alargamento dessa 'experiência' contando para isso com a sua história". Como? De forma muito simples. "Quem vem aqui são sobretudo europeus e, do meu ponto de vista, um pouco envelhecidos." Isso pode e deve mudar. "Acho que Portugal é bom demais para ser um asilo da Europa".

Idosos afastam os jovens

Carlos Coelho deixa bem claro que não tem nada contra o turismo menos jovem, contudo alerta para alguns perigos do turismo demasiado idoso. "Os idosos têm a tendência em afastar os mais novos, o que é grave." Mais. Por vezes os turistas mais jovens ficam com a ideia de que certos "destinos são para quando tiverem mais de 60 anos".

A Madeira "é capaz de ser o sítio de Portugal mais desenvolvido em termos de indústria turística." Mas não pode ficar parar no tempo. Deve modernizar e apostar noutros. A modernização de que fala passa sobretudo "pela dinamização das tradições. Normalmente coloca-se o passado no passado e o futuro no futuro. Acha-se que não se deve mexer no passado e que o futuro é só para fazer coisas novas".

Na sua óptica as coisas não se devem processar desta forma. "Devemos olhar para o presente e fazer umas boas misturas", explica. "O sucesso de Portugal e da Madeira está em acreditar que a sua tradição é uma mais valia. promover a sua tradição é uma fonte de riqueza". Mais. "Trabalhar a tradição não significa ficar parado no tempo. Significa modernizar as coisas". Esta modernização, esclarece, não representa grandes investimentos, nem rupturas com o passado. É "misturar o antigo com o moderno". Um dos exemplos disso é o "'Café do Museu', um espaço fantástico, onde nos sentimos bem".

Os "jovens não gostam das coisas tradicionais se elas estiveram fechadas no mofo. É preciso despertar consciências" e neste aspecto em particular "temos assistido a despertar muito lento, envergonhado".

Apostar no turismo do surf

Ao contrário do que muitos defendem, Carlos Coelho é da opinião que o surf deve ser uma das apostas da Madeira. "O turismo do surf não vai para hotéis tipo Casino ou Reids. É um turismo prolongado, com estadias de um a dois meses e que aparentemente tem menos poder de compra". Ora, isso não corresponde à verdade. O turismo de surf "compra em sítios alternativos e garante a sustentabilidade desses mesmos sítios, durante períodos mais prolongados. É um turismo que sustenta os 'local business'".

O turismo de surf "não é um turismo de 'pé descalço'", remata.




Óscar de Freitas Branco in dnoticias.pt - 22-04-2008